A imposição deliberada de um sistema socioeconômico leva a uma sociedade controlada pelo Estado. Nesse tipo de organização, predominam estruturas oligárquicas e hierárquicas, baseadas no comando e na obediência, em contraste com uma ordem espontânea de livre associação. A diretriz atual é gastar, e Fernando Haddad deixou isso claro em entrevistas, revelando seu interesse em manter o apoio político. Ele até concede espaço ao modelo capitalista, mas o faz com restrições e direcionamentos ideológicos.
O pacote de ajuste fiscal apresentado não passa de uma medida temporária. A proposta foi postergada até o limite e ainda precisa passar pelo processo legislativo, onde deve enfrentar muitas discussões e atrasos imprevisíveis.
Os números da economia revelam a realidade: o déficit nominal do setor público consolidado, que engloba o resultado primário e os juros, ficou em R$ 74,7 bilhões em outubro. Nos últimos 12 meses, o déficit acumulado chegou a R$ 1,092 trilhão, equivalente a 9,52% do PIB, em comparação aos R$ 1,065 trilhão (9,33% do PIB) registrados até setembro de 2024. Em meio a esse cenário, os R$ 71 bilhões previstos pelo pacote fiscal parecem insignificantes.
Resumindo, o Brasil gasta 9,33% do PIB em dívidas para crescer, na melhor das hipóteses, apenas 3%. É um péssimo negócio.
A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que inclui União, INSS e governos estaduais e municipais, atingiu 78,6% do PIB (R$ 9 trilhões) em outubro de 2024, um aumento de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior. Esse crescimento é resultado, principalmente, dos juros nominais (+0,7 p.p.), da desvalorização cambial (+0,3 p.p.) e do resgate líquido de dívida (-0,1 p.p.), enquanto a variação do PIB nominal contribuiu negativamente (-0,5 p.p.). No acumulado do ano, a dívida cresceu 4,2 p.p. do PIB devido aos juros nominais (+6,3 p.p.), à emissão líquida de dívida (+1,1 p.p.) e à desvalorização cambial (+0,7 p.p.), apesar do crescimento do PIB nominal (-4,1 p.p.).
O empresário Rubens Ometto resumiu o cenário econômico em um evento da Esfera Brasil:
“Estamos ferrados” – desabafou. Durante o evento, ele criticou a política de alta de juros adotada pelo Banco Central e expressou preocupação com o déficit fiscal que, segundo ele, não está sendo enfrentado pelo governo. Ometto ressaltou que os juros elevados inviabilizam investimentos e projetos de infraestrutura, além de poderem gerar mais inflação devido à falta de investimento na oferta de bens e serviços.
A inflação representa um dos principais riscos econômicos. Alfred Marshall acreditava que o desenvolvimento econômico dependia da qualidade das pessoas e do investimento em educação. Para ele, “o mais valioso de todos os capitais é aquele investido em seres humanos”.
John Maynard Keynes também advertiu sobre os perigos da inflação em The Economic Consequence of Peace (1919). Segundo ele, a inflação permite aos governos confiscar riqueza de forma discreta e arbitrária, afetando negativamente as relações entre devedores e credores e desorganizando a economia de mercado.
Lord Robbins, em Against Inflation (1979), associou a inflação à deterioração moral e à corrupção social, argumentando que a ausência de um padrão monetário estável prejudica a ética pública e privada.
No Brasil, a inflação cria uma economia caótica, onde o valor do dinheiro flutua de forma imprevisível. Em vez de competir no mercado com base na eficiência, muitas empresas alcançam sucesso por meio de favores políticos e acesso privilegiado ao governo.
Como apontado por Mário Simonsen em 1987, o “progressismo” é uma mistura de oportunismo e falta de discernimento. O Brasil parece seguir o mesmo caminho de países como Argentina e Venezuela, onde políticas populistas resultaram em crises econômicas.
O governo atual, com sua política de gastos e medidas paliativas, repete erros históricos e alimenta um ciclo de inflação e desconfiança. A busca por soluções temporárias e o descontrole fiscal ameaçam a estabilidade econômica e afastam o país de um crescimento sustentável.